segunda-feira, 10 de junho de 2013

Disfunção Erétil

DISFUNÇÃO ERÉTIL
Drauzio  Em que consiste a disfunção erétil?
José Mário Reis – Para o indivíduo ser considerado impotente, precisa manifestar disfunção erétil permanente. Uma falha ocasional de ereção, que pode acontecer com todos os homens, não enquadra ninguém nessa categoria. Por outro lado, quando se fala em impotência sexual, muitas vezes estamos nos referindo a outras manifestações da sexualidade masculina que nada têm a ver com a ereção, como a falta de desejo ou de orgasmo e a ejaculação precoce ou retardada. Por isso, o termo impotência sexual, na literatura, foi substituído por disfunção erétil quando significa a incapacidade de conseguir ereção satisfatória para o ato sexual.
Drauzio – A disfunção erétil atinge que universo de homens?
José Mário Reis – Estima-se que, em âmbito mundial, uma população em torno de 155 milhões de homens apresentem disfunção erétil. Estima-se também que, em 2005, aproximadamente 300 milhões de homens manifestarão esse problema. No Brasil, calcula-se que os casos atinjam 10 milhões de homens.
Considerando-se a população adulta acima de 18 anos, estima-se, ainda, que 52% dos homens apresentarão algum grau de disfunção erétil: 10% representam os casos graves; 25%, os de disfunção moderada e 17%, os de disfunção mínima.
Mesmo assim, o termo disfunção erétil continua impreciso e contraditório. Deveria ser disfunção sexual. Quando se pergunta a um indivíduo sobre sua sexualidade, pergunta-se sobre ereção satisfatória ou não e sobre a qualidade da relação sexual. Para analisar o problema, mistura-se um pouco da epidemiologia com a avaliação emocional emitida pelo paciente.
CAUSAS AS DISFUNÇÃO ERÉTIL
Drauzio - Quais são as principais causas da disfunção erétil?
José Mário Reis – Há quatro causas principais. A mais importante é a emocional e atinge 70% dos homens. Os 30% restantes apresentam uma disfunção orgânica que pode ser vascular de origem arterial, hormonal e, em pequeno número, resultado de alterações na anatomia do pênis, como ocorre na doença de Peyronie.
Drauzio – E o cigarro, que influência tem?
José Mário Reis – Não vou repetir que o cigarro causa impotência sexual, porque isso está estampado nos maços que os fumantes compram. Vou citar um trabalho bem simples que fizemos aqui em São Paulo mesmo. Foram estudados doze indivíduos com histórico de disfunção erétil, todos fumantes. Para investigar a extensão de cada caso, aplicamos o teste de ereção farmacológica, isto é, injetamos uma droga no pênis e observamos o resultado. Todos responderam positivamente, obtendo um ângulo de ereção maior do que 105 graus em média. Uma semana depois, eles retornaram, mas antes de repetir o exame fumaram dois cigarros. Em 80% deles, o ângulo de ereção caiu para 60 graus o que não deixa dúvidas sobre a ação deletéria do cigarro no mecanismo da ereção.
Drauzio – O que se entende por causas emocionais da disfunção erétil?
José Mário Reis – A disfunção erétil não envolve apenas o pênis. Quando se estuda esse órgão, deve-se pensar sempre nele e na pessoa que o comanda, na vagina que está a sua frente e na pessoa que comanda essa vagina. A relação entre pênis e ereção subentende um envolvimento entre pessoas. Daí, a grande dificuldade para determinar o diagnóstico. Sexualidade não é doença, é disfunção. Se o indivíduo quebra uma perna, o ortopedista avalia a fratura e trata daquela perna independentemente do que o paciente esteja pensando ou sentindo. Na sexualidade, ao contrário, o enfoque tem de ser emocional, porque o pênis faz parte do relacionamento íntimo entre duas pessoas. É de extrema importância estabelecer se ele funciona mal e compromete a relação, ou se funciona mal porque a relação já está comprometida. Como já disse, em 70% dos casos de disfunção erétil, a emoção está envolvida na causa. É impossível, por exemplo, manter a ereção se o casal for surpreendido por ladrões, pois o medo libera substâncias (adrenalina) que bloqueiam o estímulo sexual. Se o indivíduo atravessa um mau momento na vida, não se pode exigir que tenha bom desempenho eretivo.
Drauzio – Há algum método para separar os casos emocionais dos orgânicos?
José Mário Reis – Há dados importantes a considerar. Estudos realizados pelo Instituto H. Ellis evidenciam que os homens procuram ajuda, em média, só quatro anos depois que o problema começou a manifestar-se. Isso demonstra como é difícil vencer a inibição e procurar um médico para tratar do assunto. Em comum, a história é sempre longa, mas com aspectos distintos. Uns se queixam da má performance em casa e também com outras parceiras. Se lhe perguntamos, porém, sobre a data da última relação, a resposta é contraditória – “Foi ontem e foi ótima.” – o que denota um problema de ordem provavelmente emocional.
No entanto, há aqueles que, apesar dos inúmeros insucessos, continuam tentando. Embora o pênis não corresponda, não se entregam, o que sugere a possibilidade de um componente orgânico. Existem, ainda, aqueles que desistiram de tentar. A última relação ocorreu há bastante tempo. Um comprometimento da ereção desse tipo é difícil de entender especialmente se considerarmos o mecanismo involuntário e constante das ereções noturnas indispensável para a manutenção saudável do sistema.
Durante certo período, imaginou-se que, se havia ereção noturna, a emoção era a responsável pelo mau funcionamento do pênis em vigília. Hoje, sabe-se que a doença arterial, por exemplo, pode impedir que o sangue chegue em volume adequado ao pênis. À noite, com o indivíduo mais relaxado, o fluxo sanguíneo é suficiente para provocar ereção o que não acontece quando a resposta sexual exige presteza. Portanto, ereção noturna não garante a integridade do mecanismo da ereção.
Drauzio – Está cientificamente comprovado que a ereção noturna é fundamental para manter a integridade das estruturas anatômicas do pênis, porque sem elas o sangue venoso retido exerce ação deletéria sobre os corpos cavernosos? 
José Mário Reis - As ereções noturnas ocorrem durante as fases de sono REM e são fundamentais para preservar os corpos cavernosos e o mecanismo da ereção. Não afastam, porém, a hipótese da incidência de algumas doenças como diabetes e aterosclerose. Em vista disso, foi criado um aparelho para registrar a ocorrência e o grau das ereções enquanto o indivíduo dorme a fim de avaliar se a fisiologia está conservada.

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